Por Yuri Baldini Farjalla, da Aval Serviços Tecnológicos
Na última década, o produtor brasileiro foi protagonista de um boom na produção de commodities e,
ao mesmo tempo, assistiu à alta elevação dos custos. Obviamente que este impacto negativo nas margens de lucro derruba
o poder de investimento e causa significativo revés na cadeia produtiva de alimento. A pouca relevância dada ao agronegócio
pelos governos populistas ajuda a explicar tal conjuntura.
Em época de custos de produção altíssimos, investimentos maciços em tecnologia se tornaram essenciais a qualquer setor, inclusive o pecuário. Diante dessa realidade, o conceito de produtividade nunca esteve tão atual. Segundo estudo da Elanco, nos próximos 50 anos a produção de alimentos deverá ser ampliada em 100% e, destes, 70% serão oriundos de tecnologias de produtividade.
Dentre as diversas tecnologias disponíveis ao mercado, o melhoramento genético se caracteriza como a principal ferramenta capaz de promover mudanças rápidas no rebanho a favor de maior produtividade e, portanto, possibilitar sucesso na atividade. Seguindo essa lógica, tem sido grande o enfoque no incremento em produtividade no Guzerá IT.
A seleção tem como objetivo a evolução genética de importantes características, como ganho de peso, precocidade sexual, qualidade de carcaça e, mais recentemente, eficiência alimentar. Tal seleção não é realizada apenas escolhendo animais com biotipos produtivos, mas identificando no grupo de contemporâneos os melhores indivíduos através de mensurações, avaliações objetivas, respeitando o protocolo (idades padronizadas, lotes de manejo, etc.) preconizado pelos programas de melhoramento genético.
É sabido que alimentação representa 70% dos custos de produção em pecuária de corte, justificando a seleção para animais mais eficientes. Há 52 anos, a seleção IT vem buscando ganhos em fertilidade, desempenho, rusticidade, temperamento, qualidade de carcaça com conhecimento, portanto, de tudo que sai (out put), sem informações do que entra (in put) em maior relevância, a alimentação.
Em 2012, essa realidade começou a mudar após investimentos na seleção para eficiência alimentar, através da mensuração do consumo de alimento. Os testes de performance passaram a acontecer utilizando o sistema Intergado de cochos automatizados, proporcionando ganho em escala e qualidade da informação para mensuração do consumo diário por um período de 70 dias.
Além de ganho de peso, precocidade de acabamento e rendimento frigorífico, o teste tem como objetivo identificar os melhores indivíduos para eficiência alimentar. O impacto econômico desta seleção é brutal. Vejamos a seguir.
Com informações de entradas e saídas, foi criado o Margem@. Com a finalidade de estimar o valor do fenótipo agregado dos animais, com base nas suas informações de características econômicas importantes, no fluxo de caixa do projeto ITTR-CAR e nos valores do sistema de produção de gado de corte brasileiro foi estimada a margem da arroba de cada animal.
Não se trata de um cálculo arbitrário, mas sim econômico, já que sua unidade de medida é financeira e expressa em Reais (R$). Para o cálculo da Margem @ são considerados valores dos custos de insumos, mercado de arroba comercializado no país e as avaliações fenotípicas dos animais. Dessa forma, a Margem @ consegue espelhar a real diferença entre os fenótipos agregados, apresentando de forma clara a eficiência econômica de cada reprodutor participante do projeto ITTR-CAR.
Em 2018, completamos 600 reprodutores com informações de consumo e os resultados de Margem@ revelam significativas diferenças entre os indivíduos, confirmando a importância da continuidade dos testes. Considerando todos os machos testados, a fim de comparar tomamos o grupo dos 100 melhores animais em custo de arroba produzida com os 100 piores. Tomando por base R$ 150,00 o valor de arroba no mercado, os indivíduos lucrativos apresentaram média da Margem@ de R$ 47,00, enquanto que para os demais o prejuízo por arroba produzida foi de -R$ 19,00.
Outro dado interessante, agora com resultados comparativos entre progênies de touros identificados nos testes de eficiência e de touros que não tiveram consumo mensurado, chegamos a uma diferença de 34% no custo da arroba produzida. Lembrando que os resultados são sempre os melhores argumentos, esse exemplo ilustra o nível de precisão e a qualidade da seleção IT.
Na prática, representam a possibilidade do pecuarista e da indústria ampliarem as respectivas lucratividades. O fato é que para que o produtor pratique o conceito do menor custo de produção é fundamental a busca dos melhores indivíduos pela melhor genética. De outro modo, as margens de lucro serão mínimas ou até mesmo inexistentes.
Margem@: utilize sem moderação!